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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Despedida - parte I

Hoje por volta das 8:40 começou a cair uma garoinha bem fininha em Luanda. Isso aconteceu quando fechei minha conta na pensão Soleme. Não tava frio, mas nublado como um dia de cacimbo. Ao sair ouvi o som de um banda de música que passava na rua da Assembléia, que fica ao lado da Soleme, Rua do MPLA(Movimento Popular para Libertação de Angola - principal partido político...etc,etc).

Me emocionei, linda despedida!

domingo, 28 de agosto de 2011

O pior de Angola


Sempre que me perguntam quais os problemas que Angola tem, eu digo, os mesmos de todas as grande cidades, ou seja, desigualdade social, uns com tantos outros com tão pouco. Isso claro gera uma série de outros problemas gerados pelo descaso das autoridades locais. São tantos problemas, lixo, saúde, saneamento, escolas, etc, etc, etc...

No Brasil temos os mesmos problemas, com proporções diferentes claro, não temos a mesma história...

Hoje voltando do almoço a pé com minha amiga paraguaia, Maria José, vimos uma mãe em desespero pela perda de seu filho. A mulher, uma jovem mulher berrava desesperadamente: meu filho ê, meu filho ê. Toda sujo de ter ficado noites e noites do lado de fora do hospital pediátrico aguardando para receber a alta do seu filho, ela chorava e gritava, até que desmaiou.


Outras 3 senhoras a acompanhavam, uma delas era a mãe, ou seja, avó da criança, eu passava e observei tudo sem perguntar nada, não tinha como e nem precisava, já sabia o que tinha acontecido, ela é uma das 14 mães que perdem seus filhos diariamente só no Hospital Maria Pia. Sim, 14 crianças menores de 5 anos morrem por dia só nesse hospital por várias causas, diarréia, malária, meningite, dentre muitas outras causas definidas ou não.

Aquilo acabou comigo, apagou de dentro de mim toda a alegria que eu tinha naquele momento e não pude segurar o choro, que me saiu. Doeu dentro de mim o desespero daquela mãe, doeu dentro de mim o desespero de todas as outras mães que perdem seus filhos todos os dias por falta de auxílio médico, por falta de condições de moradia digna.

Hoje me dei conta o pior de Angola, as condições de vida das crianças que nascem e são jogadas a sorte de viver ou não. Sei que no meu país temos muito o que mudar, mas dentro de mim acho que meu lugar é aqui, por enquanto, ou enquanto me quiserem aqui, ou enquanto eu for necessária aqui, ou enquanto Deus me der forças para encarar esse tipo de situação e seguir adiante para mudar um pouco da vida dessas crianças.

Me sinto intensamente ligada à tudo isso, não sei se pela herança deixada pelo meu avô paterno ou por algo que ficou bem mais lá trás. Queria parar e consolar aquela mulher, dizer que eu entendo o que ela tá passando, oferecer algo, uma água talvez...Mas a verdade é que não sei o que ela tá passando, não faço idéia, não tenho filhos, não sou angolana, não sei onde ela vive, não sei o que a aguarda...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Hoje conheci a dona da casa em que me hospedo, a vó Maria Eulália, mãe das donas da pensão Soleme: Maria Antônia, Maria Eugênia e Maria Paulina, umas figuras. Enfim, a vó, como é carinhosamente chamada por todos, tem seus básicos 104 anos...isso, 104 anos e o mais legal, lúcida.

Estou aqui há algum tempo, já sabia dela mas tinha vergonha de me convidar para subir e conhecê-la, já que fica na parte de cima da casa. Como recebi o convite hoje, não pensei duas vezes. A vó é uma gracinha, fica na cadeira muito bem agasalhada, cheia de almofadas e muito bem penteada.

Ela teve 10 filhos e criou um dos filhos que o marido teve fora do casamento. Antônia me contou que ela tem a personalidade forte, ninguém pode contrariar a senhorinha, que diz, essa casa é minha.

Cheguei, cumprimentei, me apresentei e disse, vim conhecer a senhora pois é muito importante aqui nessa casa, queria muito conhecê-la. Ela olhou pra mim, sorriu...olhou pro lado, onde estava sua cuidadora e disse: ela é muito simpática. Depois complementou...e bonita. Sabe que ouvir isso dela é melhor do que de qualquer pessoa pois ela sim não precisa mentir...rs.

Me sinto muito feliz em ter conhecido a vó Maria Eulália, nunca pensei em conhecer alguém com 104 anos, sinto uma alegria imensa que não sei explicar.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Curiosidades Angolanas

GANGUELA é uma língua muito falada em várias partes do país e aqui em Kuando Kubango é a mais falada depois do português. Em KK cada filho que nasce recebe um nome que é como um signo que determina quem nasceu primeiro, tipo:
Primeiro filho: Ndala
Segundo filho: Samba
Terceiro filho: Cambinda
Quarto filho: Cassanga
Quinto filho: Cativa
A mesma coisa para as mulheres, só que os nomes são diferentes. Eu seria Camilla Sá Freire da Silva Kakuhu
Primeira filha: Intumba
Segunda filha: Mutango
Terceira filha: Kakuhu
Quarta filha: Mbaco

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Crianças desmaiam em escolas de Angola. O que se passa?

Estou muito impressionada com o constante desmaio de crianças nas escolas de Angola. Não sei direito o que está acontecendo mas é algo muito grave.
Na semana passada, quando ainda estava em Saurimo, ouvi alguns comentários sobre o desmaio de várias crianças em2 escolas de Luanda. Estranhei, mas como não consegui ter acesso aos meios de comunicação me pareceu um daqueles boatos que passa de boca em boca e vai crescendo.
Hoje tive uma reunião em Cazenga, município da província de Luanda. Em meio a reunião ouço sirenes e o médico que conversava comigo saiu e voltou com a notícia: 180 crianças desmaiaram na escola e estavam sendo levadas ao hospital. Ele precisou interromper a reunião para ir ao hospital, acredito que para ajudar a socorrer as vítimas. A escola fica bem atrás da repartição de saúde, local onde estávamos reunidos. Ao sair do prédio percebi muito tumulto nas ruas e todos comentando o ocorrido.
A história ouvida em Saurimo me impressionou, mas não dei muita atenção por pensar se tratar de boato, já que no mês anterior houve um boato de que um grupo de pessoas soropositivas estavam entrando em escolas com seringas ‘teoricamente infectadas’ ameaçando as crianças, principalmente mulheres.
Hoje, quando meio que presenciei o ocorrido, fiquei chocada e sem saber o que pensar. Conversando com o motorista, não percebi indignação, parece que está acostumado a esse tipo de coisa,  que não sei nem definir o que é. Atentado? Ameaça? Protesto? Fico eu com minhas dúvidas.
Resolvi pesquisar na internet notícias sobre esse assunto, e quem procura acha. Achei pouca coisa, apenas a constatação de que isso é uma constante e não casos isolados. E também não acontece somente em Luanda, mas em outras províncias como Cabinda e Cunene.
Quem será que está investigando isso, se é que estão. De acordo com os jornais, desde o início do ano vários casos desse tipo foram registrados e nenhum conclusão foi dada, nenhum encaminhamento, nenhuma providência. Sempre que acontece um novo caso é tratado como inédito.
Outra coisa peculiar que li nas matérias é que a maioria das vítimas são mulheres, porque? Só se fala em substância tóxica não determinada. Mas porque só em mulheres? Porque os tais soropositivos atacavam só mulheres? Porque as substâncias químicas atingem mais mulheres?
Eu descartaria imediatamente produtos usados em limpeza, descartaria também uma possível indústria que estivesse liberando alguns gases tóxicos próximo das escolas, pois as vítimas são escolhidas e não existem tantas indústrias químicas espalhadas pelo país e ainda mais ao lado de escolas.
Não vou falar que a escola é um lugar “seguro”. Não vou dizer que o pai que deixa seu filho na escola volta pra casa tranquilo. Acho que qualquer pai já não deixa mais seu filho em lugar nenhum e sai tranquilo, seja no Brasil, em Angola, nos Estados Unidos ou no Japão. Infelizmente escolas não são mais sinónimo de segurança para nossos filhos.