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domingo, 28 de agosto de 2011

O pior de Angola


Sempre que me perguntam quais os problemas que Angola tem, eu digo, os mesmos de todas as grande cidades, ou seja, desigualdade social, uns com tantos outros com tão pouco. Isso claro gera uma série de outros problemas gerados pelo descaso das autoridades locais. São tantos problemas, lixo, saúde, saneamento, escolas, etc, etc, etc...

No Brasil temos os mesmos problemas, com proporções diferentes claro, não temos a mesma história...

Hoje voltando do almoço a pé com minha amiga paraguaia, Maria José, vimos uma mãe em desespero pela perda de seu filho. A mulher, uma jovem mulher berrava desesperadamente: meu filho ê, meu filho ê. Toda sujo de ter ficado noites e noites do lado de fora do hospital pediátrico aguardando para receber a alta do seu filho, ela chorava e gritava, até que desmaiou.


Outras 3 senhoras a acompanhavam, uma delas era a mãe, ou seja, avó da criança, eu passava e observei tudo sem perguntar nada, não tinha como e nem precisava, já sabia o que tinha acontecido, ela é uma das 14 mães que perdem seus filhos diariamente só no Hospital Maria Pia. Sim, 14 crianças menores de 5 anos morrem por dia só nesse hospital por várias causas, diarréia, malária, meningite, dentre muitas outras causas definidas ou não.

Aquilo acabou comigo, apagou de dentro de mim toda a alegria que eu tinha naquele momento e não pude segurar o choro, que me saiu. Doeu dentro de mim o desespero daquela mãe, doeu dentro de mim o desespero de todas as outras mães que perdem seus filhos todos os dias por falta de auxílio médico, por falta de condições de moradia digna.

Hoje me dei conta o pior de Angola, as condições de vida das crianças que nascem e são jogadas a sorte de viver ou não. Sei que no meu país temos muito o que mudar, mas dentro de mim acho que meu lugar é aqui, por enquanto, ou enquanto me quiserem aqui, ou enquanto eu for necessária aqui, ou enquanto Deus me der forças para encarar esse tipo de situação e seguir adiante para mudar um pouco da vida dessas crianças.

Me sinto intensamente ligada à tudo isso, não sei se pela herança deixada pelo meu avô paterno ou por algo que ficou bem mais lá trás. Queria parar e consolar aquela mulher, dizer que eu entendo o que ela tá passando, oferecer algo, uma água talvez...Mas a verdade é que não sei o que ela tá passando, não faço idéia, não tenho filhos, não sou angolana, não sei onde ela vive, não sei o que a aguarda...

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